1 de setembro de 2008

Montanhas do Atlas, Marrocos

Quando decidimos visitar as Montanhas do Atlas falámos com o "nosso" taxista, o Abdul, que desde o nosso segundo dia em Marraquexe fez um pouco de nosso guia.
Primeiro discutimos o preço, não foi fácil, mas lá chegámos a um meio-termo. O Abdul queria 1000 DH, nós oferecemos 500 e acabou por ficar nos 650 DH. Combinámos a hora e no dia seguinte lá estava ele todo contente à nossa espera, afinal ia ganhar mais que num dia de trabalho normal.
Partimos às 9h30 com destino às Montanhas do Atlas, mais precisamente a Setti Fatma, no Vale de Ourika.
A viagem foi longa, quase 2 horas, mas a paisagem única onde a natureza ainda prevalece foi-nos alimentando o desejo de conhecer ainda mais sobre esta nova cultura.
Passámos por aldeias cujas casas embutidas nas encostas avermelhadas das montanhas e barradas com a própria terra das mesmas quase passavam despercebidas.
Onde as pontes ainda são feitas de ripas de madeira e corda, sendo impossível estar sobre elas um determinado número de pessoas uma vez que deixariam imediatamente de ser pontes...


Ao longo da viagem o Abdul parou pelo menos 3 vezes junto a lojas de artesanato que havia à beira da estrada, pois queria muito que comprássemos alguma coisa para ele ganhar comissão.
Um tapete, uma peça de cerâmica, um anel, qualquer coisa...
Até teríamos comprado qualquer coisa, se os preços estivessem marcados.
É assim que funciona, os taxistas param sempre nesses locais uma vez que querem somar mais alguns Dirhams ao que já acordaram com os clientes, mas connosco o Abdul não teve sorte. Mas foi sempre simpático, e ao longo da viagem foi-nos falando sobre alguns aspectos da cultura deles e mais uma vez tentando convencer-nos de que aqueles locais eram os mais baratos para comprar, disse-nos que o povo das montanhas, o povo berbere, era quem fazia todo o tipo de artesanato que víamos à venda nos souks por preços mais elevados.


Assim que chegámos a Setti Fatma aproximaram-se do táxi vários homens, ficámos com algum receio, mas de imediato nos apercebemos que queriam oferecer os seus serviços.
O Abdul escolheu um rapaz muito novo, mais novo do que qualquer um de nós, para nos acompanhar às cascatas.
Mas antes de subirmos ficámos um bocadinho por aquela simples mas bonita aldeia berbere, onde o tempo parou.
Por ali, as mulheres ainda lavam a roupa no rio, as crianças, meninas, guardam os rebanhos e tratam de apanhar o pasto para os outros animais, enquanto os rapazes brincam no rio.


Os homens, esses, procuram sustentar a casa com o que ganham ao acompanhar cada turista às cascatas, à medida que vão explicando o que podem com umas palavras de francês, inglês e outras que mais...
As pontes na realidade não são pontes e as casas encontram-se maioritariamente inacabadas. O barbeiro da aldeia também arranca dentes ou o "dentista" também corta cabelo.


Uma coisa é certa, os habitantes de Setti Fatma são felizes e mostram a qualquer turista que a riqueza material não traz a felicidade.


Setti Fatma tem 7 cascatas e parece que quanto mais se sobe mais encantado se fica. Nós só fomos até à primeira cascata, a escalada durou cerca de 40 minutos e não nos atrevemos a subir mais porque não levávamos calçado próprio para aquele trajecto.

A paisagem é sem dúvida muito bonita e a vontade que dá quando se começa a avistar a cascata é mesmo de mergulhar nela.
Houve turistas que o fizeram, mas com muita pena nossa limitámo-nos a molhar as pernas, pois o Abdul não iria permitir que entrássemos no táxi com roupas molhadas.


Depois daquele momento de união com a natureza e de descansarmos, resolvemos descer e ir ao encontro do Abdul.
Não comemos por ali por falta de coragem ou talvez receio mas pedimos-lhe que nos levasse de volta a Marraquexe.
Perguntámos-lhe se ele queria comer, mas como bom muçulmano recusou imediatamente uma vez que estavam no Ramadão.
E na viagem de volta presenteou-nos com o som do Alcorão, pois é um dever, de todo muçulmano tentar memorizar, escutar, e recitar o Alcorão Sagrado o tanto quanto puder.

(DICA)
Todos os anos em Agosto se celebra em Setti Fatma, no magnífico Vale de Ourika, um "moussem", uma festa onde se organizam jogos, comércio, feira agrícola, um mercado ou souk e outros tipos de entretenimento assim como celebrações em torno do elemento religioso.

Sem comentários:

Enviar um comentário